O Caminho de Asura Capitulo 15

 


Capítulo 15

Deixe Sangrar


 — Vamos ver como se sai sem as informações que tanto queria — falou o homem.

— Preferia tê-las, mas ainda consigo me virar.

De repente, o braço direito do loiro começou a sofrer uma espécie de mutação. Sua coloração passou a ser meio roxa enquanto sua musculatura aumentava de forma exponencial e espinhos nasciam a partir do membro, crescendo e dividindo-se em várias espécies de tentáculos.

— Hum… — Vendo aquilo, Asura resmungou.

E no momento seguinte, ele foi arremessado para fora da cabana através da parede, parando a uma dezena de metros, em terreno aberto.

— Não são espinhos normais. — O jovem constatou ao ver os cortes e perfurações em seus braços e peito causados pelo golpe do braço modificado do homem. Talvez estivessem envenenados ou possuíssem alguma característica especial, mas os ferrões o infectaram de alguma forma, e apesar de não saber como exatamente, ele sabia que havia ocorrido.

“Você sabe que está lidando com um usuário de Poder de Origem, né? Aquele homem não faz uso de sua habilidade, ele é sua habilidade. Poder e alma existem como uma única coisa, um retroalimentando o outro, um sobrevivendo e crescendo com o outro. É isso que significa reivindicar um Poder de Origem.” Falou Askhalon.

— E há algo que o faça se destacar sobre as outras forças? Algo que faça esse cara em específico ser mais forte que o normal?

“Uma das principais coisas que diferenciam é a Queima. Um usuário de Poder de Origem pode usar sua alma de combustível para fortalecer suas capacidades, mas se isso for feito em excesso…”

— Ele morre.

O homem saiu do casebre caminhando em direção a Asura.

— No fim, não faz muita diferença — disse o jovem. — Rokda! Seja fácil, seja difícil, o que importa é que ele pode ser morto — terminou agarrando o cabo de Rastaross.   

Askhalon não pôde deixar de soltar uma risada. O inimigo era poderoso e imprevisível, mas tudo o que o rapaz parecia ver era um coração que ele logo faria parar de bater.

Asura firmou seus pés, girou seu quadril e arremessou seu machado. 

O homem olhou com desgosto para a arma. Será que esse moleque realmente acha que vai me atingir com isso, se perguntou ele.

O usuário de Poder de Origem moveu seu braço e com um golpe reabateu a ferramenta com grande facilidade, lançando-a para cima.

— Armior!  

Entretanto, Rastaross começou a girar no ar com extrema velocidade, o que pegou o homem desprevenido, permitindo que o machado avançasse e terminasse cravado em seu braço mutante.

— Não sente dor, é? — Vendo a expressão inalterada de seu oponente, Asura questionou.

— Deveria? Tolo. — O homem arrancou e jogou a arma de lado sem dar qualquer importância. — Um pedaço de metal bruto não arrancará nem mesmo uma sílaba de minha boca.

O jovem chamou de volta Rastaross, sacou a faca Azrok e partiu pra cima.

— A única vantagem que você provavelmente poderia possuir era a distância, e a primeira coisa que você faz é abrir mão dela? — O loiro estocou com seu braço em direção ao rapaz deixou que os afiados espinhos fizessem o resto.

— Raitr!

No entanto, Asura desviou para a esquerda do ataque, cravou a lâmina fria entre os ferrões, segurou Rastaross com ambas as mãos e girou seu corpo.

— Belodeir!

O gume do machado entrou em combustão e desceu sobre a área pela qual o gelo estava se espalhando. Um corte limpo. Metade do membro mutado caiu no chão junto de sangue suficiente para formar uma poça em alguns segundos.

Os olhos dos dois se encontraram, um encarando ao outro. 

“Acha mesmo que acabou?” Pensou o homem.

Asura de repente sentiu os feriementos causados anteriormente doerem e ao observá-los percebeu que eles estavam se abrindo ainda mais. Não teve tempo para pensar muito nisso, pois no instante seguinte o braço mutante decepado do homem cresceu de volta e se moveu em sua direção.

Pego em cheio, o jovem foi arremessado para longe.

— Diga-me, garoto, quem é você? Por que está se metendo comigo? Não vai dizer que também está atrás da lança, vai?

— Lança? — O rapaz rebateu enquanto se levantava. — A do entalhe negro? Até alguns minutos atrás nunca havia ouvido falar nessa coisa, e mesmo agora não tenho ideia do que realmente seja, não que eu esteja interessado. Meu nome é Asura, e eu estou aqui para dar um jeito em você, apenas isso.

— Não faz muita diferença, nem para mim nem para você, mas é bom que não esteja de olho em meu tesouro. Meu nome é Uriot, aliás.

— Eu não perguntei. Handor!

Um segundo depois, uma dezena de símbolos rúnicos brilharam pelo chão abaixo dos pés do homem.

— Preparou runas explosivas de antemão?! Maldito!

Os escritos explodiram, levantando uma grande quantidade de poeira que obstruiu a visão de Uriot.

— Não vai dar certo, não comigo!

O homem movimentou seu braço mutante, e, usando-o como lâmina, cortou o ar com imensa força, o que fez o pó se dissipar de imediato.

Todavia, Asura havia desaparecido de sua visão, não estava em lugar algum.

Foi então que Uriot sentiu um arrepio subir por sua nuca e um frio gélido tomar seu coração. O inimigo estava bem atrás dele.

O homem girou seu corpo e golpeou, mas atingiu o ar apenas. Asura se agachou para esquivar do ataque e então decepou a perna esquerda do usuário de Poder de Origem na altura do joelho usando seu machado.

Urrando de dor, o homem caiu de costas no chão, e a próxima coisa que viu foi seu inimigo levantar Rastaross sobre sua cabeça.

A lâmina desceu, direto até seu rosto, mas seus tentáculos foram rápidos o suficiente para acertar a arma, fazendo-a desviar para direita e acabar enterrada no solo, ao lado da cabeça de Uriot.

O ataque, no entanto, não parou por aí. Ele estocou em direção ao estômago de Asura, que por sua vez saiu para a direita, arrancou o machado do chão e o lançou para cima, colocando seu punho destro em chamas logo em seguida.

O soco desceu, mas o braço do homem avançou em direção à sua face. Ambos tiveram que desviar, e a consequência foi o erro. Uriot abriu uma vala na terra com seu membro mutante e Asura deixou um buraco chamuscado ao lado do crânio do homem.

— Rokdavier!

Rastaross, que já havia subido bastante, começou a descer a uma velocidade monstruosa. O jovem então agarrou o rosto do homem com a mão esquerda enquanto com a direita pressionou o braço tentaculoso do mesmo, segurando-o contra o chão e o impedindo de se mover.

— Argh, desgraçado, me largue! — Debatendo-se, berrou Uriot. A força física do inimigo estava o surpreendendo, e não era pouco, afinal, conter seu braço mutante não era uma tarefa fácil. Ele sabia que se o machado continuasse na mesma trajetória por uns dois segundos seu crânio seria dividido ao meio, mesmo que isso custasse ao rapaz a própria mão, ou seja, precisava fazer algo.

De repente, os tentáculos de seu braço se expandiram, criando ainda mais ramificações mais longas e cheias de espinhos. Asura não teve mais o que fazer, foi preciso largar Uriot e desviar dos ferrões que voltaram a atacá-lo violentamente.

O jovem se afastou, agarrou Rastaross e cortou os flagelos que insistiram em segui-lo. Após esses, não vieram outros, o homem cessou seus ataques, ao menos por um momento.

O rapaz então percebeu que o sangramento dos cortes não havia parado, muito pelo contrário, só se tornou ainda maior, fora a sensação de algo como uma infecção ou um malefício se espalhando por seu corpo, algo que estava gradativamente drenando suas forças.

— Não… acredito que alguém como você me forçou a esse ponto… — Uriot se sentou, completamente indignado. Uma luta que parecia simples aos seus olhos lhe custou uma perna e colocou sua vida em jogo, se saísse dessa vivo amaldiçoria eternamente o nome de Asura.

“Ele está queimando a própria alma para fazer seus poderes se tornarem mais fortes. Isso pode dar problema. Melhor acabar com ele agora, pois a cada segundo que se passar, ele estará se tornando mais forte, apesar de que isso o colocará mais perto da morte também. Sua expectativa de vida deve estar diminuindo drasticamente.” Avisou Askhalon.

— Quieto — disse o jovem. — Não me importa se você é um usuário de Poder de Origem ou sei lá o que, eu vou te matar! — Seu tom de repente mudou, assumindo uma expressão de escárnio e passando a agir de acordo com tal. — Eu vim somente atrás de você, mas confesso que despertei um certo interesse na busca que está fazendo! Sabe de uma coisa? Acho que quando você estiver morto eu mesmo vou pegar aquela tal lança do entalhe negro.

— Seu… Seu maldito desgraçado… Ninguém além de mim tocará na Quinta!!!

A atuação de Asura cumpriu seu papel, ele atingiu o calcanhar de Aquiles do homem. A simples ideia de outra pessoa pegar o artefato que ele já tinha como seu fez sua ira irromper, o que era exatamente o que seu oponente queria.

— Que se dane!

No lugar da perna decepada, tentáculos nasceram, assim como em seu braço esquerdo. Os espinhos tornaram-se mais longos e afiados, além dos próprios flagelos em si, que estenderam-se e dividiram-se em ainda mais ramificações.

Antes que ele fizesse algo, Asura avançou, pegando de volta Azrok e brandindo Rastaross enquanto corria.

Ao vê-lo se aproximando, Uriot atacou, lançando golpes em todas as direções, porém, o rapaz desviou e cortou sem parar de correr nem por um segundo sequer, logo fechando uma distância de apenas cinco metros.

O jovem cravou sua faca em um tentáculo que tentou estocar por seu flanco esquerdo, girou sobre os calcanhares e terminou arremessando o machado contra o usuário de Poder de Origem.

— Armidavier!

Logo que o grito foi proferido, a arma ganhou um enorme impulso, e tudo que Uriot pôde fazer para impedí-la foi colocar grande parte de seus flagelos no caminho. Rastaross se enterrou na parede de carne, mas para a infelicidade do homem, continuou tentando avançar. 

— Inferno…

Enquanto o homem enfrentava dificuldades para segurar o machado, Asura se aproveitou da oportunidade. Ele partiu para cima e se jogou ao chão, deslizando até alcançar as pernas de seu oponente, onde cravou Azrok na canela direita do mesmo, fazendo gelo fragilizante se espalhar por seu único membro que ainda era como o de um humano comum.

Logo em seguida, o rapaz recuperou sua faca e se pôs de pé às costas de Uriot.

— Rargar!

Ele agarrou o ombro esquerdo de seu inimigo e desferiu um direto flamejante em sua nuca, algo que quase fez o último ir ao chão.

— Ora, seu…!

— Rokdavier!

Assim que Asura mudou seu posicionamento em relação a Rastaross, passando à sua frente na mesma direção em que ele estava avançando, a arma passou a se mover na direção contrária, ou seja, começou a avançar para trás, afastando-se de seu dono, o que se devia a seus encantamentos “Armior” e “Armidavier”, que faziam com que o machado basicamente avançasse para longe do jovem com uma grande potência, uma característica que ele usava em seus arremessos.

Rastaross, que já se distanciava muito de seu mestre, passou a voar em direção a Asura assim que foi chamado, o que por conseguinte o colocou em rota de colisão com Uriot.

O homem então se viu num impasse. Se ele se concentrasse no inimigo, seria atingido pelo machado, enquanto se focar somente na arma era pedir para morrer graças à ameaça humana mortal atrás dele. Tentar atacar ambos pareceu ser uma autocondenação ainda maior.

Asura pegou Azrok e preparou-se para enterrá-la na cabeça de seu oponente, ao mesmo tempo em que ficou de prontidão para desviar se a escolha dele fosse atacá-lo.

E foi exatamente o que o usuário de Poder de origem fez. Ele voltou-se para o rapaz pronto para acabar com ele com toda a sua força, deixando como defesa para interceptar Rastaross apenas dois ou três tentáculos.

Asura viu os flagelos cheios de espinhos virem de todas as direções, cobrindo sua visão e até mesmo a luz do sol. Se ele fosse atingido em cheio, não viveria para vê-la novamente.

— Rargar!

O jovem desferiu um soco à frente, atingindo vários tentáculos e queimando todos os outros com as chamas que irromperam do golpe e se espalharam para todos os lados.

Os ferrões, no entanto, o alcançaram, rasgando e perfurando sua pele, ao mesmo tempo em que Rastaross atingiu a defesa imposta por Uriot, que não aguentou e cedeu perante tamanha força.

O machado seguiu em frente e cortou o braço mutante direito do homem, fazendo boa parte dos flagelos caírem ao chão. Vendo-se parcialmente livre dos ataques, Asura, derramando sangue o suficiente para pintar o solo de vermelho, agarrou Rastaross com a mão esquerda, o que fez seu ombro estalar por conta da força do mesmo e seus ferimentos abrirem ainda mais.

Ele quase caiu, mas deu um passo atrás, recuperou o equilíbrio e golpeou com Rastaross.

— Camtlet!

O machado cortou na horizontal, colocando um rasgo no homem que se iniciava em seu ombro direito e descia até o abdômen.

Logo em seguida, Asura passou Rastaross para a mão direita, firmou seus pés e desferiu outro ataque.

— Camclet!

A lâmina desceu sobre a cabeça de Uriot, e o que encontrou foi um bloqueio de flagelos imposto pelo mesmo, o que fez o golpe parar, por mais que quase tivesse os decepado.

Asura mudou a forma como segurava Rastaross e o puxou para trás, empunhou Azrok com a mão esquerda e a cravou nas costelas direitas do homem.

— Maldição!

Uriot sentiu a morte se aproximar. Ele não podia tomar o próximo golpe, não se quisesse continuar vivo.

Todos os tentáculos se colocaram à sua frente, formando um escudo.

Asura girou seu corpo e desferiu um corte contra o flanco direito do homem.

— Armidavier!

O machado tomou impulso e a parede de carne não resistiu. Sangue voou e os membros mutantes foram divididos ao meio.

Rastaross atingiu as costelas de Uriot, exatamente onde o gelo fragilizante havia se espalhado. Sua lâmina atravessou metade da barriga do homem, um estrago irreversível.

O usuário de Poder de Origem encontrou seu fim, assim como o confronto.