Khaos e Versus - O caminho de Asura Capitulo 1

 

A Sepultura da Paz


Reino Tybur - Vila das Canoas.



— Peguei!



Um jovem de físico atlético sentado na beira de um píer puxou a vara de pescar em suas mãos. Em seus olhos pardos, o reflexo de um grande peixe pendurado no anzol surgiu. Asura era seu nome. 



A Vila das Canoas, lar do rapaz, ficava no extremo norte do Reino Tybur, à beira do Rio Kalion, e sobrevivia da pesca, produção de móveis rústicos e transporte de mercadorias e pessoas pelo rio. Um lugar calmo e belo, em meio a grandes e verdejantes florestas, distante da agitação das grandes cidades.



O jovem pôs o peixe que havia pego na cesta ao seu lado e jogou o anzol na água novamente enquanto coçava sua cabeça, bagunçando seus cabelos escuros como a noite que insistiam em cair para os lados.



— Asura! — Uma pequena menina surgiu às costas do rapaz, colocando suas mãozinhas em seus ombros na tentativa de lhe dar um susto, mas acabou frustrada com o jovem, que fingiu não ouvi-la e continuou focado em sua pescaria.



— Asura? Asura...? — A criança fez beicinho e não se deu por vencida, insistindo em conseguir a atenção dele, começou a cutucá-lo.



De um lado para o outro, ela o empurrou e o perturbou.



— Ei, ei. Assim vai espantar os peixes — falou o rapaz.



— Asura, é verdade que na capital do reino existem caçadores Rank S? — A inquieta menina perguntou.



— Sim, é verdade.



— Sério? E eles são muito fortes?



— Claro. Muito fortes.



— Mas fortes quanto? 



— Muito fortes.



— Mas fortes quanto?!



— Fortes.



— Mais fortes que aquele que morreu na floresta alguns anos atrás?



— …



— Asura?



— Aquele era um caçador Rank B. Não chegava nem perto do poder de um Rank S, mas tinha coragem. Enfrentar um kitano não… — O jovem se interrompeu. — Meu pai deve ter umas boas histórias sobre os Rank S. Vá lá perguntar. — Ele aproveitou para a fazer ir embora.



— Tá! — Ela girou sobre os calcanhares e correu de volta para a vila.



— Enfrentar um kitano não é fácil.



Asura deixou um suspiro escapar e voltou sua atenção à pesca.



Kairís, creetans, karmors, espíritos. A maioria dos seres vivos se encaixava em um desses grupos. Mas além de tais, existia outro, kitanos. Estes eram seres que um dia foram normais, pertencendo a algum dos outros grupos, mas que então se transformaram em monstros sedentos por sangue por algum motivo misterioso. 



Eles surgiam nas Fissuras Negras, grandes espaços criados ao redor de um portal enigmático que se alguém entrasse, não sairia. E existiam os caçadores, normalmente kairís e creetans, os quais tinham o dever de  explorar o perigoso lugar, matar os kitanos e fechar a passagem espacial. Esse era o propósito deles.



Anos atrás, Asura se perdeu na grande floresta que cerca a Vila das Canoas e andou sem rumo por horas. Quando estava perto do anoitecer, ele foi surpreendido por um desses monstros e morreria se um caçador Rank B não tivesse aparecido para interceptar a criatura. 



O guerreiro empunhava um machado, o kitano era grande e tinha enormes garras. Eles travaram uma batalha mortal. O homem usou cortes rápidos e fortes para tentar decapitar a besta, enquanto ela se concentrou em cansar o humano através de longas sequências de golpes.



Ao fim do confronto a sanguinolenta fera foi derrotada, porém isso custou a vida do caçador. Mais tarde Asura foi resgatado e descobriu que o ser havia escapado de uma Fissura Negra que surgira nas proximidades.



Aquilo o atormentava. Não havia nada que o garoto odiasse tanto quanto o que sentiu naquele dia. Não conseguir mover um músculo frente a um monstro que poderia o matar em um piscar de olhos, sentir medo ao ponto de seus ossos gelarem e seu corpo tremer como se não pudesse se aguentar de pé. Impotência, medo e fraqueza eram coisas que ele conhecia bem.



“É sobre medo.” Pensou o jovem. 



Cinco meses atrás.



Um homem estava no porão de sua casa, organizando sua enorme estante de livros  empoeirados que poderia fazer uma pessoa espirrar por um dia inteiro.



O cuidado com que manuseava os exemplares o faziam parecer uma pessoa gentil. Seu rosto tinha um formato comum, os poucos fios grisalhos em seu cabelo e em sua barba cheia lhe davam um aspecto ligeiramente velho e uma cicatriz que parecia um borrão negro em seu pescoço mostrava que ele havia vivido tempos difíceis.



Este era Arthur, pai de Asura.



— Pai. — O jovem o surpreendeu.



— Oh, Asura. Que bom que veio. Será que pode me ajudar? — Arthur apontou para os livros em cima de uma mesa redonda de madeira vermelha.



Em silêncio, o rapaz pegou uma pilha de livros e os carregou até a estante onde Arthur começou a colocá-los nas prateleiras.



Os olhos do homem giraram, fitando ora os livros ora o garoto. Deveria ele se concentrar na tarefa de guardar seus livros ou na de ser um bom pai ao ver a angústia nos olhos de seu filho?



— Pai...



— Sim?



Ao invés de uma resposta, silêncio.



— Surpreendente como somos iguais — disse o homem.



Havia palavras que o garoto queria dizer, mas o silêncio foi tudo veio dele.



— Sabe, eu tenho medo de escrever. Tenho medo de destruir os contos que vivem na minha cabeça ao passá-los para o papel. Você tem medo de continuar a ser o mesmo menino que foi anos atrás. Você não é atormentado pela morte do caçador ou pela brutalidade do kitano, mas assombrado pelo seu eu do passado através de memórias ruins.



— …



— Asura. — Arthur colocou sua mão no ombro do jovem. — O importante não é nunca falhar, o importante é não parar nessa falha.



— Eu... vou superar isso.



— Imagino quanto dessa mágoa você vem guardando consigo nesses anos. Derramar lágrimas é importante, pois significa deixar aquilo que te corrói sair, então, se der vontade, chore mais uma vez, mas quando terminar, nunca mais se deixe chorar pelo mesmo motivo.



As palavras de seu pai foram o bastante para fazer seus tormentos diminuírem. Asura estava bem, havia superado.



De volta ao presente, o garoto recolheu o anzol, guardou a vara de pesca e foi para sua casa. No caminho cumprimentou pessoas que iam e vinham, chegando a cansar-se do número de vezes que falou “bom dia” ou  que teve de dizer como estavam seus pais. Apesar de não ser tão surpreendente, já que numa vila pequena como essa, era como se todos fossem uma grande família.



 Depois de passar por algumas dezenas de casas, o rapaz chegou ao seu lar. Dentre as várias da vila, a dele era a mais movimentada, pois hoje a irmã de sua mãe iria se casar,  logo os fundos da casa estavam sendo preparados para abrigar a cerimônia.



Ele finalmente conseguiu chegar até a cozinha depois de atravessar um mar de pessoas que decoravam e arrumavam a residência e então colocou a cesta de peixes em uma das mesas que ainda estavam vazias.



— Não, não, não. Essa é a mesa de doces, aquela é a de peixes. Sai, sai! — Uma mulher empurrou o recipiente cheio para cima do jovem, que não teve outra escolha senão aceitar a expulsão.



A mulher era bela e parecia mais jovem do que realmente era, possuía longos cabelos cor de mel e olhos no mesmo tom, usava um vestido azul florido e tinha um cordão com o brasão de um sol com três pontas maiores na ponta superior pendurado em seu pescoço.



Esta era Lena, mãe de Asura.



— Querida! O javali! — Arthur, que estava cortando legumes em uma bancada de madeira, se apressou em apontar para o fogaréu que envolvia a carne suína no espeto sobre a descontrolada fogueira.



— Oh, céus!



Lena tirou a carne e apagou o fogo. O javali estava... A carne estava bem.



— No ponto. — Arthur riu.



O tempo passou, a cerimônia de casamento já havia acabado e a aguardada dança estava acontecendo. Sob a luz do luar, no meio de uma multidão de pessoas, um homem e uma mulher giraram sobre a grama através de passos sequenciais e finalizaram sua performance. Eram a irmã de Lena e o seu agora marido, Honran.



— Meus parabéns! — Arthur os abordou.



— Foi uma ótima dança. — Lena também os parabenizou.



— Sim, obrigado. Mas eu ouvi falar que vocês dois são invencíveis. Por que não demonstram um pouco desse talento? — Honran, o homem altivo com um semblante um tanto quanto pomposo que possuía os cabelos penteados para trás e trajava um gibão vermelho, os desafiou.



— Ah, não. A noite é de vocês. — Lena educadamente recusou.



— Ah, vai. Você dança tão bem e faz tanto tempo que eu não vejo vocês dois o fazerem. — Sua irmã insistiu.



— Eu ...



— Vamos. Por que não? — Seu marido deu o incentivo final.



Agora, ambos estavam sozinhos no centro do círculo de pessoas. Eles entrelaçaram suas mãos, a direita dele com a esquerda dela, Arthur segurou sua cintura, e Lena suas costas. Os músicos então deram início a uma suave e bela melodia.



Os passos iam e vinham. Sincronizados, o casal olhava um nos olhos do outro. Seus pés se moviam sozinhos, acompanhando o ritmo da canção. Foi então que algo veio à mente do homem. Um poema.



 — A força do nosso amor, não pode ser contida em palavras. E para amar como eu te amo, letras não são necessárias.



Lena se recordou desse poema. No primeiro encontro que eles tiveram, Arthur planejou recitá-lo, mas quando chegou a hora, ele se esqueceu totalmente de metade do poema, então, ela, que o conhecia, se encarregou da parte final.



— Pode ser que um dia partamos. Mas enquanto nos sobrar amor, renasceremos reservados um para o outro. — Ela completou.



Logo, a bela dança chegou ao fim. A plateia aplaudiu no momento em que os passos do casal pararam.



O solitário Asura num canto qualquer da festa parou de observar seus pais quando viu de canto de olho Honran entrar na floresta, aparentemente irritado. Desconfiado, o jovem abandonou a comemoração e resolveu segui-lo.



O homem, que caminhava com fervor até um segundo atrás, parou de repente.



— Ei! Apareçam! — Ele gritou, mesmo estando no fundo de uma floresta, cercado por vegetação apenas.



Mas várias pessoas realmente apareceram. Algumas dezenas que estavam ocultos, invisíveis, em plena vista. Dentre esses, havia um jovem ruivo de, no máximo, quinze anos que parecia falar por todos os que surgiram.



— Honran, o que faz aqui? Isso não faz parte do plano — Sua voz carregava um ar de superioridade.



— Eu vim pedir para que comecemos a agir — Apesar de insatisfeito com a atitude do rapaz, Honran sabia que não podia enfrentá-lo, tanto no quesito autoridade quanto força.



— Não acha que está se precipitando?



— Arthur não é nada do que dizem. Os contos sobre sua força são falsos. Não há o que temer. Se a invasão começar agora, garanto que ele estará morto em cinco minutos.



Asura, que estava escondido a metros de distância, ouvia atentamente a conversa. 



"Eles querem invadir a vila? Não..."



O jovem fitou os homens com atenção. Todos usavam trajes negros encapuzados com discretos detalhes em azul.



"Devem ser assassinos. Grupos recém-formados não agem dessa forma, usando roupas iguais, sincronia impecável... Talvez militares de algum reino. Motivos suficientes para querer invadir Tybur... Dinamond." Ele deduziu.



Dinamond era um reino de grande poderio militar que fazia fronteira com Tybur, mas apesar de serem vizinhos, não eram nada amigáveis.



"Parece que essa invasão ainda não aconteceu porque achavam que meu pai era de alguma forma forte. E esse Honran é um maldito infiltrado..."



— Eu vou explicar de uma forma que até alguém como você possa entender. Nós não somos a cavalaria, viemos aqui para sondar a área e, principalmente, investigar o homem chamado Arthur. 



— Rudeus, eu estou aqui há meses aqui! Aquele homem não passa de um contador de histórias. Se não fizermos nada agora, o reino pode querer dar para trás e desistir da guerra! 



— Até que a verdadeira força de Arthur seja confirmada, continuaremos a observar. Seu achismo não é motivo o suficiente para...



O som seco de uma faca sendo cravada no tronco de uma árvore o interrompeu de repente.



— Sermos descobertos é motivo o suficiente? — O assassino que a arremessou perguntou.



Descoberto pelos invasores, Asura deixou a mata e correu a toda velocidade de volta à vila.



"Droga! Eu me descuidei!"



Ele saiu por entre as árvores e a passos espaçados correu de volta para sua casa, mas foi interceptado no meio do caminho por seu pai.



— Asura, onde você estava? Ah, na verdade, você viu Honran? Ele desapareceu, não o encontro em lugar algum. 



— Pai, Honran é um infiltrado. Ele está com um grupo de assassinos do reino Dinamond! Eles planejam invadir a vila e declarar guerra contra Tybur! 



— O quê? Não, você deve ter se enganado... — Aos olhos do homem, aquilo pareceu impossível.



— Pai!



O olhar do rapaz era firme. E ao encará-lo, Arthur percebeu que da boca dele não saíam mentiras.



— Tá. Ok... Precisamos… avisar os outros. Vamos fugir pelo rio!



O pai partiu para um lado e seu filho para o outro.



— Assassinos irão atacar a vila! Juntem-se e vão para o rio! Usem as canoas para fugir! — Os passos apressados, o suor frio e os berros do homem faziam parecer que ele lutava contra o pânico enquanto alertava as pessoas.



A vila não possuía guerreiros, então, contra militares os moradores não tinham outra escolha senão fugir.



— Arthur! Arthur, o que está acontecendo?! — Lena o alcançou em meio à multidão de pessoas que já corriam desesperadas para o rio.



— Lena, pegue o máximo de pessoas e as leve para as canoas. Assassinos do reino Dinamond! Se corrermos talvez ainda dê tempo!



— Esse é o nosso lar! Mesmo se corrermos, muitos irão morrer! Você... Você tem que pegá-la!



— Não... Eu não consigo... Eu...



— Eu sei o quão difícil é para você, mas... você precisa usá-la. Pelo bem da vila... Arthur… Por favor... — Lágrimas de desespero correram pelo rosto da mulher. Ela sabia que aquele objeto era algo do qual seu marido queria manter distância e a doía muito pedir para que ele a usasse.



O pobre homem estava prestes a cair em desespero. As pessoas correndo, sua esposa implorando... Isso o fazia acreditar que não havia outra opção. Mas só de imaginar o que aconteceria se ele voltasse a tê-la em mãos...



— Arthur! Você é uma lenda ou realmente pode ser uma ameaça para Dinamond?! — Sua espinha gelou ao ouvir a voz de Honran, que aos seus ouvidos pareceu mais a de um demônio.



Nesse instante ele percebeu que não haveria escolha, e correu. Não para fugir, mas para chegar a uma casa levemente isolada do resto da vila.



— Ei! Abra!



Arthur bateu na porta algumas vezes antes de resolver derrubá-la.



Dentro da casa só havia alguns móveis empoeirados, além de um velho e magro homem sentado em uma cadeira.



— Onde ela está?! — O invasor perguntou, aflito.



O homem não respondeu, sequer olhou para quem estava à sua frente.



— Eu preciso dela! Esqueça o juramento!



Sem resposta.



— Ei! Lan...



— Será que um homem movido por desespero conseguirá?



— Eu... Eu tenho que conseguir!



O homem baixou a cabeça sentindo um gosto amargo em sua boca, talvez decepção. Como poderia um juramento feito sobre fogo e morte ser quebrado tão facilmente? Após um momento, ele disse:



— No galpão de madeira número dois, debaixo da terceira pilha de tábuas de madeira de aço há um alçapão. Ela está lá. — Mas no fim, ele já não se importava muito.



Na vila, os corpos dos moradores já começavam a se acumular e chamas se alastravam com facilidade pelas casas de madeira.



A maioria das pessoas já estavam a caminho do rio. Porém, havia aqueles que ficaram para trás. E enquanto corria, Asura ouviu o choro de uma criança e não hesitou em voltar. 



Uma menina pequena de cabelos ruivos chorava perto de seu pai, que estava preso sob escombros de uma casa e tinha as pernas seriamente queimadas. 



— Ajuda ele! — A garotinha gritou.



Mesmo sabendo que as chances daquele homem eram baixas, ele agarrou a maior das vigas de madeira e tentou a levantar com todas as suas forças.



— Ei! Nã... Ei! — O homem chamou pelo rapaz, mas ele não lhe deu ouvidos.



Ele então agarrou o braço de Asura, o que o fez parar. Quando seus olhares se encontraram, o garoto entendeu perfeitamente o que ele queria dizer mesmo que nenhuma palavra tivesse sido dita.



— Eu vou ajudar seu pai! Vá para o rio! — O jovem se virou para a criança.



— Papai... — A menina relutou.



— Vai ficar tudo bem, querida. — Ele confortou sua filha que depois de hesitar muito, partiu.



Asura voltou a tentar erguer a viga.



— Ah! Não... Chega... — O homem urrou de dor.



— Resista! — O jovem continuou, colocando ainda mais empenho e finalmente erguendo a viga, mesmo que não muito.



— Garoto! 



— Você não pode desistir! Você tem uma filha!



— E uma esposa também!



Asura fraquejou, não suportou o peso e a colocou onde estava.



— Ah... Acha que eu quero desistir e morrer aqui?! Eu amo minha filha e quero vê-la crescer, amo minha mulher e quero envelhecer junto dela! — As lágrimas em seu rosto reafirmaram o que ele dizia. — Mas eu não vou conseguir ir a lugar algum do jeito que estou, e se alguém tentar me ajudar vai acabar morrendo comigo! 



— Eu não posso te deixar aqui! — Aquilo o encheu de ódio, tristeza e culpa. Alguém que precisava de ajuda estava bem à sua frente, mas ele era incapaz de ajudá-lo.



— Tá... tudo bem... Me diz uma coisa: qual é o seu nome?



— Asura…



— Asura. Tá tudo bem me deixar aqui, mas em troca, me faça um favor.



O jovem não conseguiu fazer nada além de assentir com a cabeça.



— Minha filha não vai ter mais ninguém depois de hoje. Então, cuide dela. Ela é meu tesouro...



O rapaz relutantemente concordou com a cabeça, pois queria poder ao menos permitir o pobre homem morrer em paz sabendo que sua filha ficaria bem. E sabendo que daquele momento em diante uma culpa o atormentaria, o jovem disparou em direção ao rio sem olhar para trás.



Ele logo chegou lá, mas ficou confuso pois todas as pessoas estavam paradas na margem, alguns de joelhos e mesmo alguns mortos. Ele não teve muito tempo para digerir a situação porque uma faca foi posta em seu pescoço.



— Junte-se aos outros. — O assassino que segurava a faca ordenou.



O rapaz não teve outra escolha senão acatar a ordem. No meio da multidão, ele pôde escutar ainda mais claramente, ele escutou desespero. As pessoas rezavam, choravam ao lado dos corpos de seus entes, tremiam de medo… Asura sentiu que esse era exatamente o mesmo ponto onde ele esteve no passado.



O jovem então notou sua calça ser puxada e ao se virar, viu a filha daquele homem. Ele não conseguiu manter a cabeça erguida.