Power Prime Capitulo 1

  

Caótico

 Ultran - Desfiladeiro do dragão - Região Oeste.


Desfiladeiro do dragão, o maior cânion de Ultran. A ravina que se estendia de leste a oeste nestas áridas terras garantia uma vista belíssima para o horizonte. E havia alguém que sabia bem disso. 


Recostado no paredão de pedra, espiando o pôr-do-sol com seus olhos esmeraldas, havia um menino baixinho de dez anos que possuía grandes cabelos castanhos bagunçados e tinha seu semblante pintado pela melancolia.


Com olhos perdidos ele fitava a extensão da massiva rachadura terrestre, amarelada pela luz do sol poente, mas seus pensamentos estavam bem distantes da paisagem, tanto que por entre seus calejados dedos ele brincava com uma pedra sem sequer perceber, passando-a de uma mão para a outra como se estivesse no automático.


“Eu deveria estar tentando fazer algo…”


Esse era Haro.


— Hmm... Então você está aqui. 


Um jovem magro o suficiente para suas costelas marcarem sua pele desceu por um caminho entalhado no paredão e se aproximou do garoto. 


— Shen? 


— Ah, e aí, fujão? — O rapaz cumprimentou enquanto mexia em seus cabelos espetados, fazendo com que alguns fios caíssem, passando em frente aos seus olhos cansados sem que ele ou o pequeno percebessem.


— Não preciso de sermão — reclamou de antemão o menino. 


— Se não precisasse, não levaria um quase sempre.


“Ele tem um ponto…” Pensou o garoto.


Ignorando a inocência da criança, Shen perguntou: 


— O que te fez vir pra cá? Não foi à toa, foi? 


Em resposta, Haro sorriu, mostrando a janelinha que agora havia no lugar onde deveria estar um de seus dentes.


— Ah, o quê?! — Mesmo sentindo pena do menino, ele não pôde evitar rir. 


— Um dente a menos não vai mudar muita coisa —  falou o pequeno enquanto aplicava socos no ar como um boxeador.

 

— Ter todos eles no lugar também não mudaria nada. 


— De que adianta ficar reclamando? Fazer isso não vai mudar quem eu sou. 


— Você não precisa de poderes para ser... 


— É... Eu sei. — Pocesso, o garoto tomou rumo ao caminho no paredão. — Vamos, está ficando escuro. 



— É... Escuro. 


A dupla não demorou para chegar a uma casa simples de madeira rústica no meio de um campo aberto, lugar o qual o pequeno chamava de lar.


O menino limpou seus pés, colocou sua mão na porta e após um momento a empurrou, abrindo-a e dando de cara com a pessoa que ele mais queria que estivesse longe no momento, seu pai. 


O homem usava coque masculino, era quase tão alto quanto a porta da casa, tinha um semblante que somado à sua grande musculatura visível por conta de sua camisa sem mangas poderia intimidar qualquer um.


— Entre — disse ele.


Cartack, líder da Região Oeste. O Vendaval Ultan. O Senhor do Vento, O Ultan Mais Forte. Ele tinha muitos títulos.


O grande sujeito se sentou de pernas cruzadas no chão e Haro fez o mesmo. Ele então passou seu olhar penetrante sobre o menino, dos pés à cabeça, e então suspirou, massageando as têmporas logo em seguida.


“Não… Não se decepcione…” O pensamento que mais parecia uma súplica interior tomou a mente do garoto.


— Não importa o que digam, não é por que você não tem dons que é inferior aos outros. Nesse mundo e em todos os outros, poder é muito, mas não tudo. Medite comigo, filho. Corpo e alma. 


Do lado de fora, Shen estava sentado em um banco quando um jovem se aproximou. 


— Keinan. 


— Shen. 


Esse era o irmão de Haro, Keinan. Ele possuía cabelos cor de mel e olhos diferenciados, que tinham uma cor vermelho ardente e uma estranha linha branca circular que nunca parava de girar. 


— Para onde você vai hoje? —  Questionou ele, inexpressivo. 


— Como descobriu que fui expulso do bar? — Um suspiro antecedeu a pergunta do rapaz de cabelos espetados, feita com uma pitada de frustração em relação à descoberta do recém-chegado.


— Ouvi algumas pessoas falando sobre um jovem que vivia tossindo e sentindo dores que foi expulso de um estabelecimento a pontapés pelo dono do bar. 


— …


— A doença voltou a piorar?


— Sim.


— Pelo menos agora você não tem que trabalhar naquele lugar para ganhar migalhas.


— Infelizmente eram aquelas migalhas que me impediam de morrer de fome!


— Porque foi assim que você quis. Recusando ajuda, querendo lidar com tudo sozinho.


— Ah, não, não me faça ter de implorar para que você não conte para ninguém de novo!


— Não vou fazer isso. Eu prometi. Bom, se não tiver para onde ir, passe a noite aqui. 


— Quer abrigar um moribundo?


— Não seria a primeira vez. E isso não importa. Afinal, você está vivo, não está? — Talvez por ter falado tudo que tinha a dizer ou por ter coisas a fazer, Keinan se retirou.


— E se essa maldita doença deteriorou quase completamente meus poderes e pode me matar a qualquer momento é detalhe, né?! — Shen pestanejou sabendo que ninguém o ouvia.


De volta ao interior da residência, Cartack começou a falar:


— Os princípios de um guerreiro: Conheça a si mesmo, conheça seu inimigo: conheça seus pontos fortes e fracos. Jamais subestime um adversário ou a si mesmo. Sabedoria: uma luta não é decidida somente pela força. Um plano pode virar a mesa ou até mesmo sua vida. Você entendeu?


— Aham.


— Convicção: tenha certeza do que faz. Não olhe para trás pensando no que poderia ter sido diferente e viverá sem arrependimentos. E o mais importante, coragem: tenha coragem, pois aquele que vive à sombra do medo não vive a totalidade da vida. 


— Eu os conheço…


Cartack assentiu, se levantou e disse:  


— Estes não são simples provérbios, são princípios. Leve-os contigo, mantenha-os em sua alma. Não importa o que acontecerá no futuro, guarde estas palavras contigo: você não é inútil, você é meu filho, um ultan. — Largando tais palavras com seu filho, ele se retirou. 


Calor. Conforto. Paz. Foi isso que Haro sentiu naquele momento. Pela primeira vez em um bom tempo, ele sentiu que poucas palavras bastavam.


Cartack sempre pareceu distante, até mesmo indiferente, fazendo recorrentes discursos dos quais o menino já estava cansado. Mas esse pareceu diferente. Parecia cheio. Ele não poderia dizer do que, mas sentia que essas palavras estavam cheias de algo.


— Não sou inútil. — Recitou para si mesmo o garoto enquanto as lágrimas ameaçavam correr por suas bochechas.


****


Logo semanas se passaram. As coisas pareciam estar entrando nos trilhos, provendo uma sensação de paz.


No alto de uma pedreira, Haro caiu no chão de cascalho ao levar um soco no abdômen.

 

— Você perdeu. Agora são 48 a 47 — disse Shen. 



— Ah, não brinca…



O garoto agarrou a mão que seu amigo estendeu e se levantou com a ajuda dele. 


— Mais duas e eu alcanço 50 vitórias — O mais velho afirmou, confiante. 


— Não conte com isso. 


— Caramba, está ficando frio… — Shen esfregou suas gélidas mãos. — Ei…


Antes que o rapaz pudesse completar sua frase, um alto som de algo sendo rasgado invadiu sua audição e uma sombra gigantesca os cobriu de repente. 


Olhando para o céu eles avistaram uma enorme nave surgir através de um rasgo espacial. Ela era vermelha e cinza, cheia de anos de modificações e melhorias, tinha marcas de oxidação e seu formato lembrava o de um dirigível.


Após um momento de quietude, o portal cósmico se fechou, canhões altamente tecnológicos foram armados na proa da espaçonave e logo dispararam contra a Região Oeste. Uma grande área foi engolida pelo ataque massivo e dentro não sobrou pedra sobre pedra. 


— Minha casa… — O menino lamentou.


— Droga, abaixa!


— Ah! — Mesmo estando distantes da área atingida, Haro e Shen foram pegos por uma forte onda de choque.


A nave não fez mais nada após o primeiro ataque, como se um caçador após dar seu aviso estivesse esperando a reação de sua presa.


Depois de algum tempo, três dos quatro líderes das regiões reuniram todos os seus exércitos e avançaram contra a imensa embarcação espacial. O exército ultan carregava milhares de soldados armados. Por outro lado, a nave invasora era provida de uma vasta armada de combate. 


Frente a frente, sobre uma agora planície árida achatada, nenhum dos lados tomou a iniciativa.


— Tragam o intermediário. — Uma voz rouca soou da nave, alcançando a audição de todos. 


O exército continuou em silêncio. 


— Irei contar até três. — A voz soou de novo. 


— Eu sou o intermediário! — Um homem gritou. 


— Aqui estou eu! — Mais um se destacou. 


— Se você tiver coragem, venha me pegar! 


Gritos e mais gritos foram ouvidos. 


— Ha! Ah! Ah! Sua resistência fútil me diverte. Porém, estou atrás do verdadeiro intermediário... Presumo que vocês estejam ganhando tempo, certo? Bem, não estou interessado em seu povo miserável, vocês só precisam me entregar o intermediário e eu os deixarei ir. 


— Só um de nós poderá sair daqui, Riot! — Do exército, se destacou um homem. Ele apontou sua espada e falou com todo o orgulho que o atual líder do Leste poderia usar. 


— Já que vocês insistem em serem eliminados, eu o farei. 


— Homens, vamos lutar até a morte! Somos ultans e acima de tudo, somos guerreiros! E guerreiros não tem medo da morte! Muito menos de um medíocre caçador de recompensas! — Gritou Houyin, o líder do Norte. 


O exército soltou um retumbante grito de guerra enquanto todos ativavam suas habilidades. Sem perder mais tempo, a gigantesca nave fez seu movimento. Um canhão gigante surgiu na proa. O poder de ataque dessa coisa deveria ser 100 vezes mais poderoso que os anteriores.


O exército avançou, milhares de naves e soldados combinaram todas as suas forças em um ataque. O canhão disparou, mas foi parado por um raio que misturava inúmeros poderes lançados pelos ultans. O choque foi ensurdecedor e ofuscante. 


Alguns milhares morreram e naves caíram como gotas de chuva enquanto a fumaça subia e a poeira baixava.


— Avante!!! — Houyin exclamou. 


**** 


— Droga, o que foi esse barulho? — Perguntou Haro. 


Depois dos ataques, ele e Shen seguiram até o que sobrou de sua casa. 


— Provavelmente Ultran reagindo. — O jovem respondeu. Ele suspirou secretamente, acreditando que seu povo venceria.


De repente, um ruído seco que vinha detrás de uma parede destruída pela metade quebrou o silêncio. 


— Quem tá aí?! — Haro se apressou e perguntou. 


— Calma, sou eu.


A dupla pôde respirar aliviada. Essa voz era de Keinan.


— Vamos, não temos tempo a perder. — O rapaz de olhos vermelhos os apressou.


 — Espera, onde vamos? — O menino questionou. 


— Lá eu explico. 


****


E enquanto os jovens tomavam seu caminho, o caos do combate sangrento no campo de batalha aumentava. Grandes planícies viraram crateras, vilas tornaram-se cemitérios e a vegetação foi reduzida à cinzas. Atualmente, o exército de Ultran que restou era um terço do total. Quanto ao exército inimigo, perderam metade dos seus. 


Mas o maior problema era a gigantesca nave. O canhão enorme mais uma vez foi disparado, mas não havia ultans o suficiente para segurar tamanho poder dessa vez. O raio de energia colidiu com o solo, massacrando o que havia sobrado do exército de guerreiros. 


Ultran perdeu. 


— O intermediário deve estar fugindo neste momento! Encontrem-no! — Riot gritou para um de seus subordinados. 


— Engraçado você dizer isso! 


— Hã? 


Em meio à sucata e corpos, Houyin, se levantou. Ele havia perdido um braço e seus ferimentos eram gravíssimos. 


— Cartack não tem motivos para fugir! São vocês que vão correr por suas vidas no final. 


Vendo aquele homem que se mantia vivo por um fio, Riot se revelou. Era um homem alto e forte que vestia um soobretudo preto e vermelho, seus cabelos negros caíam para frente e encobriam parcialmente uma cicatriz presente em sua testa. 


O caçador de recompensas deixou sua nave e, levitando no ar, se aproximou de Houyin.


— E por que você acha isso? — Ele perguntou. 


— Um dia talvez você descubra! 


O caçador de recompensas agarrou os cabelos do ultan e levantou seu rosto com um violento puxão.


— Fique tranquilo, Cartack logo se juntará a você no inferno. 


— Lá sempre cabe mais um...


Uma luz vermelha brilhou na ponta do dedo indicador de Riot e então disparou, atravessando o peito de Houyin.


O cadáver caiu ao chão. 


— Vamos, lancem os batedores. — O caçador de recompensas deu a ordem ao retornar a nave, logo, inúmeros drones saíram de várias partes da mesma. — Prepare minha recompensa, Randall. Levarei o que você quer.  


****


Depois de uma longa caminhada, Haro, Keinan e Shen chegaram às ruínas de um castelo. Dentro dele, Cartack apressadamente preparava um altar. 


A construção de mármore branco tinha brilhantes fios de energia preta e branca se  espalhando como pequenos rios por sua estrutura. Flutuando acima dele estava uma pequena esfera cinzenta que girava constantemente. 


— Pai. — Keinan chamou. 


— Traga-o. 


Haro então foi guiado até o altar. 


— Coloque sua mão aqui. — Cartack apontou para a estrutura de um metro de altura. Hesitante, o menino colocou sua mão sobre ele. 


A esfera vibrou como se estivesse alegre. As linhas que corriam pelo altar começaram a convergir para a mão da criança e a expressão dele mudou quando os fios entraram em sua palma, causando uma dor lacerante. De repente, a bola desceu e se encontrou com a estrutura, logo em seguida, se integrou a ela. 


Os fios de energia no altar ficaram mais brilhantes e se transformaram em um pilar de luz preta e branca que entrava por sua palma. 


— Ah... Pai... 


Antes que Haro completasse a frase, a mão de Cartack pousou em seu ombro. 


— Não resista, isso é poder entrando em seu corpo. 


Os olhos daquela criança brilharam. Poder? Isso era o que ele havia sonhado toda a vida.  


Ele abriu mão de suas defesas e cerrou os dentes determinadamente sem pensar duas vezes. Perfurando sua carne? Nem que lhe arrancassem uma mão! Linhas pretas e brancas brilhantes que corriam por debaixo de sua pele, circulando por todo o seu corpo, eram visíveis a olho nu. Seus olhos verdes agora possuíam um cinza profundo. 


Shen se aproximou de Keinan e Cartack, que estavam atrás de Haro, e perguntou:

 

— Como ele está? 


— Sua condição é estável. Quando a integração estiver completa iremos sair de Ultran. — O homem respondeu.


Os jovens se entre olharam. 


— Sei que vocês estão com dúvidas, mas sejam pacientes, quando estivermos fora de perigo irei lhes contar tudo. — O líder do Oeste lhes assegurou.


— Ah! 


Haro segurou com força o braço que estava em contato com o altar com a outra mão enquanto sentia uma terrível dor.  Logo as mutações pararam e tudo se acalmou. 


— Acabou? — Shen deixou sua dúvida escapar. 


O altar originalmente cinza ficou branco, as linhas negras desapareceram, os olhos do menino assumiram a mesma cor e uma luz radiante o cercou. 


— Quase. — Cartack respondeu. A antecipação estava estampada em seus olhos. 


Aquela luz chegou ao ápice e era impossível lhe direcionar o olhar. Logo que alcançou o ápice, aquele brilho explodiu e se transformou em inúmeros pontos luminosos que caíram como neve. 


O homem suspirou. Ele estava aliviado, mas ainda não havia acabado. 


A mudança voltou a ocorrer, só que ao invés de branco, seus olhos e a luz que o cercava ficaram totalmente negros. Como da última vez, a iluminação se expandiu e chegou ao pináculo.


— Aaah! 


Shen gritou levando as mãos à cabeça. Esse era um dos ataques de sua doença. 


— Aaai...! Logo agora... Ah! 


Cambaleando para frente, o jovem se desequilibrou, e, buscando apoio, sua mão pousou sobre o altar. Um som tão alto como o de um trovão retumbou, deixando todos atordoados. 


O estágio final da integração da esfera de poder no corpo de Haro foi interrompido e sua mutação retrocedeu, deixando apenas alguns fios de energia negra. Todos estavam indo para o corpo de Shen. Seu corpo convulsionou enquanto uma camada de pura escuridão cobria sua pele. 


— Não! — Cartack avançou em direção ao rapaz.


— Aaaah! — Os jovens em contato com o altar gritaram simultaneamente. 


Uma explosão gigantesca acompanhada por um estrondo colossal teve seu epicentro ali. Esse barulho, por mais que não pudesse ser ouvido por todos, alcançou os ouvidos de alguns, mesmo nos confins da existência. 


**** 


Num lugar desconhecido e há muito tempo perdido para muitos seres do universo... 


Dentro de um palácio, em um salão, um homem vestido com um manto completamente branco estava sentado em uma poltrona vermelha. Ele parecia ter de 50 a 60 anos, mas só parecia. 


Ao seu lado, deitado no chão, um tigre branco que possuía listras negras por seu corpo franziu a testa. 


— Acha que é ele? — Perguntou a fera falante. 


— Pensei que Kiron havia lhe dado um fim, mas se não... — A resposta do homem fez parecer que ele estava apenas pensando alto. 


— Pessoas como ele não se vão tão facilmente. 


— É verdade. 


A porta do salão se abriu e um homem que se vestia como um mordomo entrou. 


— Meu senhor. — Ele se ajoelhou. 


— Onde foi o epicentro? 


— Em um planeta chamado Ultran. 


— Certo... Diga a Um e Dois para ficarem de olho nele. E em Randall também.


— Sim. — O subordinado respondeu e logo saiu. 


— Se tudo for como antes, as coisas vão ficar interessantes. — Riu o tigre enquanto saudosas memórias permeavam sua mente. 


— Ou caóticas. 


**** 


Já em outro canto do universo... 


— Aquele inútil permitiu que ele fizesse a integração! — Murmurou furiosamente um homem que estava sentado em um trono que ficava no centro de um salão cheio de pilares negros.


A pele dele era pálida e seus cabelos eram cinzentos. Ele trajava um manto branco rasgado cheio de coisas semelhantes a veias pretas espalhadas por seu tecido. À sua frente, dois homens estavam ajoelhados e um em pé. 


— Diga, o que acontecerá a seguir? — Ele se dirigiu ao que estava de pé. 


— Mestre Randall, minhas visões... estão embaçadas e já não vejo o que acontecerá a seguir... 


O imponente sujeito então se levantou e franziu a testa. 


— Hmm... não consegue ver o que acontecerá a seguir. Quer dizer que você perdeu sua utilidade... 


— Mestre, eu... 


— Sabe o que significa perder a utilidade? — Randall o interrompeu.


Em hipótese alguma o homem que via não uma pessoa à sua frente, mas a própria morte, conseguiria responder. O ser de pele pálida desceu os degraus que levavam até seu trono e parou à frente de seu subordinado. 


— Apenas tente adivinhar.


O vidente arregalou os olhos, mas antes que ele pudesse fazer algo, a mão de Randall agarrou seu rosto e o ergueu, tirando seus pés do chão. O homem se debateu e gritou, mas para ele era impossível fugir do Celestial Caído. 


De repente, o corpo daquele pobre coitado ficou branco como papel e estático como uma estátua. Várias rachaduras apareceram sobre sua pele e então ele desmoronou em várias partes que caíram ao chão, e logo viraram pó. 


— Vocês, vão e fiquem de olho nele. Não deixem que ele morra, mas também não o deixem evoluir demais!


Aqueles dois não se atreveram a ficar nem por mais um segundo, eles abriram um rasgo no espaço e desapareceram ao entrar nele. 


Randall caminhou ao seu trono e se sentou. 


— Parece que terei que partir para o plano B. 


**** 


De volta à Ultran, nas ruínas do castelo... 


Se a grande construção antes estava em ruínas, agora estava em cacos. Do antes magnífico e brilhante altar, só sobrou o pó.  Logo à frente, Haro estava estirado no chão. Seu corpo já havia voltado ao normal e ele respirava fracamente. Pequenos pontos escuros caíam como flocos de neve negros.


E Shen... desapareceu completamente.